1.1. Gramática: Direções (Imperativos)
Entre as principais funções de todas as línguas estão as relações gramaticais do sujeito e do objeto e como isso se revela nos verbos transitivos, por outras palavras, as relações semânticas da pessoa que realiza a ação e da pessoa afetada pela ação realizada. Ou seja, deve haver uma forma de expressar quem fez o quê, a quem e como foi feito, por exemplo, quem está a ajudar, quem está a ser ajudado ou quem está a ensinar e quem é ensinado e assim por diante. As diferentes línguas têm diferentes formas de lidar com isto.
A maioria das línguas gestuais conhecidas emprega “orientação” ou “harmonia com o verbo”. Isso inclui orientar o gesto significativo e o signo que geralmente começa num ponto espacial onde está localizado o sujeito e termina no ponto espacial que está associado ao objeto. A primeira pessoa do singular está associada à sua própria localização no espaço, a segunda pessoa do singular está associada à localização da pessoa do outro lado e a terceira pessoa do singular está associada a qualquer ponto abstrato no espaço. Existem alguns exemplos na LGP que estudaremos nas próximas secções. O gesto inclui um movimento da posição da segunda pessoa do singular para a primeira pessoa do singular e significa “Tu estás a ensinar-me”. Como pode ser observado nos exemplos, o gesto mostra o movimento entre as posições de duas pessoas diferentes na terceira pessoa do singular e significa “Ele está a ensiná-la” ou “Ela está a ensiná-lo”. Exemplos da LGP podem ser escritos da mesma maneira. Estes exemplos serão mostrados na apresentação da transcrição que os investigadores das línguas gestuais geralmente utilizam. 2: Perguntar:1 - “Tu estás a perguntar-me.” 3ª:Perguntar: 3b - “Ele está a perguntar-lhe (a ela).” |
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1.2. Vocabulário/ Geral
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1.3. Vocabulário/ Escola
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1.4. Cultura Surda/ Associações de Surdos
A fundação da Associação Portuguesa de Surdos (APS), no dia 24 de setembro de 1958, enquadra-se numa época em que o método oralista dominava na educação dos Surdos, que, por si, afetava a autoestima dos Surdos. Os Surdos que mais se inclinavam para a língua gestual, e se reuniam num espaço cedido pela Sociedade Filarmónica João Rodrigues Cordeiro, na Rua da Fé, Lisboa, entenderam a conveniência de constituírem uma Associação destinada para eles. Assim, nasceu a primeira Associação de Surdos em Portugal, com sede em Alvalade e tendo como primeira presidente Maria Madalena Pires.
Com o decorrer do tempo e devido a várias circunstâncias, a APS foi mudando de sede, com especial destaque daquela situada na Avenida da Liberdade, onde tiveram lugar mais de 50 anos de história. Com 12 anos de existência, a APS já contava com 300 sócios. Inicialmente, a APS viveu apenas das quotizações dos sócios e de alguns donativos ocasionais concedidos por pessoas e instituições diversas. Só mais tarde, e sobretudo, a partir de 1979 é que a Associação passou a receber uma ajuda financeira mais efetiva e regular da parte do Estado. Entretanto, esta ajuda servia apenas para a manutenção da escola noturna da Associação, onde se ministravam os quatro primeiros anos do Ensino Básico para adolescentes e adultos surdos de ambos os géneros. Desde a sua fundação, a APS estabeleceu várias relações, filiando-se na Federação Mundial de Surdos (WFD) em 1960 e no Comité Internacional de Xadrez Silencioso (ICCD) em 1972. Para cumprir as suas atribuições, de âmbito nacional, a APS criou delegações em várias regiões, tais como no Porto em 1974, nas cidades de Coimbra e Leiria em 1993, no Algarve em 1995 e no distrito de Setúbal em 2000. Hoje, várias dessas delegações tornaram-se em Associações independentes, enquanto outras foram extintas. Uma delegação internacional também foi criada em Macau, no ano de 1994, até a região administrativa passar para a jurisdição chinesa em 1999. Presentemente, existem 28 associações de surdos em Portugal, sendo que apenas 10 estão filiadas na Federação Portuguesa das Associações de Surdos. Estas associações são espaços de desenvolvimento da LGP e da Cultura da Comunidade Surda, desenvolvendo eventos desportivos, culturais e onde são ministrados cursos de LGP de vários níveis. |
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1.5. Vocabulário/ Desporto
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1.6. Cultura Surda/ Campos para Surdos
As associações de surdos são espaços onde a Cultura Surda floresce e prospera ao longo da nossa história. Neste espaço, onde a cultura coexiste com a própria identidade da Comunidade Surda, os sócios vão descobrindo atividades recreativas, algumas com base do quotidiano da sociedade. Nalgumas destas atividades, constata-se uma transformação única que só é possível dentro da Comunidade Surda, onde impera uma língua com características distintas na sua expressão – a língua gestual em detrimento da língua oral e escrita.
Destas atividades destaca-se o teatro, onde as peças são produzidas e executadas através da Língua Gestual Portuguesa, e os atores são, na sua maioria, pessoas surdas. Com tantos anos de atividade ininterrupta, o teatro continua a ter vida nos dias de hoje. Em conjunto com a equipa de teatro, todas pessoas surdas num leque bem diverso em termos de idade, género, raça e orientação sexual, têm realizado peças no espaço associativo, bem como noutros espaços quando assim determinado. Intérpretes Falhados, As Fofoqueiras e História Mágica são parte do repertório da equipa. Além disso, as associações de surdos festejam igualmente os dias especiais que a sociedade em geral festeja, tais como o Dia de S. Valentim, o Carnaval, o Dia das Crianças, o Dia das Bruxas, a Páscoa, o Santo António, o Magusto de São Martinho, o Natal, a Passagem de Ano Novo, entre outros. Esses eventos são adaptados à Comunidade Surda, sempre com a Língua Gestual Portuguesa incluída. Desta forma, passou a ser parte da Cultura Surda os associados encontrarem-se no espaço associativo neste dia, formando uma enorme família que vai além dos laços de sangue. Também são comemorados os dias mais importantes para a Comunidade Surda, como o Dia Mundial do Surdo ou o Dia da Língua Gestual Portuguesa, bem como são realizados eventos próprios da nossa comunidade, como por exemplo, o Festival Cultural de Surdos que conta com diversas formas de artes. Eventos menores, como concursos de bolos e desfiles de moda também são organizados nas associações de surdos. Por fim, os dias específicos e festivos não são o único motivo para a existência de eventos, havendo uma abertura a iniciativas dos sócios, tais como passeios culturais, workshops diversos, sessões de yoga, dias de jogos de futebol onde as pessoas assistem de um ecrã gigante, entre outros. |
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